Quantas chances se pode ter de retornar a vida?

EÓRIA é um blog criado para divulgar a trilogia de mesmo nome, cujo o livro um da série, “O retorno da guerreira”, conta a história de uma sociedade de vampiros que foi obrigada a se refugiar no subsolo para sobreviver a partir da rivalidade desencadeada entre vampiros e lobisomens...

quinta-feira, 19 de julho de 2012


                                                            Capítulo 2
                                                     Elizabeth e o espelho

        Eu estava horrível, dois anos e meio haviam se passado após a morte do Bill, e não havia uma só noite que eu não chorasse ou tivesse pesadelos. Estava tão diferente daquela ocasião, que já tinha até me esquecido que espelhos existiam. Fazia tanto tempo que eu não prestava atenção em mim mesma, que quando olhei para o espelho quase perguntei, “quem é você?”. O que faria o Bill gritar: “Não seja ridícula quem mais teria olhos como esses?”. Olhos grandes e esverdeados, cabelos castanhos, lisos ondulados, que agora estava medindo um pouco mais abaixo que o meio das costas. O cabelo! A parte favorita do velho Bill. Ele sempre dizia que os cabelos compridos são sempre mais bonitos e eu os conservei assim em homenagem a ele. Lábios carnudos e nariz pequeno, pele clara. Se ele estivesse aqui diria: “Você me lembra tanto uma princesa indiana!”. Eu não parecia nada com uma indiana. O Bill era descendente de ingleses. Mas ele sabia que eu morria de inveja da cor de canela que elas possuem e diria qualquer coisa pra me agradar. Eu tinha uma foto da minha mãe colada no espelho e tenho que admitir, a semelhança entre nós duas era grande, principalmente fisica. Margaret era linda, corpo curvilíneo e harmônico, a altura dela? Bem, dessa parte eu não sei muito, mas eu media pouco mais que um metro e setenta, nesse momento.
        O meu reflexo não era dos melhores. Pálida e cheia de olheiras, vestida em uma camisa grande que me servia de pijama. Sem pensar muito, Tirei a roupa e me joguei debaixo de uma ducha quente e tomei um banho revigorante... de jeito nenhum desceria com uma cara abatida e apática, demonstrando fraqueza diante dos meus inimigos. Sim porque, o senhor Robert Trevor não poderia ser classificado propriamente como meu aliado nessa batalha, embora fosse sempre muito educado e disponível para esclarecer minhas dúvidas ele, indisfarçavelmente, tinha uma queda pela senhora Grant. Por esse motivo a “Leoa” sabia tudo que fôra conversado entre eu e o “meu advogado”. Bastante constrangedor para mim, eu nunca podia perguntar abertamente o que queria já que sabia o que aconteceria assim que eu saísse do escritório.
        Mas eis que eu estava a incríveis seis meses do meu aniversário, minha maior idade...  Não havia nada que a “Leoa” e o senhor Trevor poderiam fazer para mudar essa situação. Fora quando os meus pais estavam vivos, esse seria o primeiro aniversário realmente feliz após anos de culpa. Esse seria o aniversário da liberdade.
        Com certeza a primeira coisa que eu faria seria deixar aquela mansão, e saíria por aí, daria a volta ao mundo e começaria pela África do Sul, acho que duas ou três semanas lá, me fariam muito bem.
        Eu ria para mim mesma com meus devaneios. Quando esses pensamentos me enchiam de força e excitação, um outro sentimento tomava conta de mim ao mesmo tempo, nostalgia, aquela mansão era dos Grants há mais de um século, quando eu penso Grants, penso em descendência e não em laços contratuais. E depois a casa não era sombria e velha como um mausoléu. É verdade que ficava um pouco afastada da cidade. Mas era moderna, graças ao bom gosto em decoração da atual senhora Grant, isso eu não tenho como negar. Era também espaçosa, tanto por dentro, quanto por fora, com seu imenso terreno e jardins. Porém sua atmosfera se tornou insuportável com a presença da Leonor, como se fosse um fantasma, a espreita pelos cantos, como se tramasse algo sempre... Mas de uma coisa eu tinha certeza, não havia nada que ela pudesse fazer contra mim. Não que eu pensasse que ela fosse capaz disso.
        Uma vez o Bill, me disse que aquela mansão foi palco de muitas alegrias, meu pai nasceu num dos quartos e por mais estranho que pareça, apesar de todo avanço da medicina, parece que minha mãe optou pela tradição, assim, eu mesma nasci naquela casa.
        Não sei por que, mas eu tinha a sensação que ao sair rumo a liberdade, aquele lugar jamais seria meu novamente. Pensamento estranho já que ela, como todos os bens do Bill, todo dinheiro guardado e tudo o mais pertenciam a mim.
        A fortuna dos Grants,vem da indústria madeireira. As Indústrias Grant estão entre as líderes nacionais na confecção de produtos de madeira.
        Apesar da senhora Grant e seu filho não herdarem nada, ela ficou como minha tutora legal e seu filho como presidente da empresa até que eu fosse capaz de dirigí-la legalmente e correspondesse as exigências para o cargo. O período em que eu estivesse na universidade, o Anthony, permaneceria lá até minha volta e certamente sua mãe permaneceria na casa por tempo indeterminado.
        Há dois anos atrás ela me fez assinar um documento cedendo a casa para ela, mas eu era menor, por lei incapaz, portanto, inapta para isso.  Mesmo que ela tivesse uma procuração para cuidar de tudo para mim, ela não podia gastar os meus bens de forma que prejudicasse o meu patrimônio futuro. Além disso, aquela mansão agora não era só minha...  o que a irritava ainda mais. Leonor não tinha muita opção a não ser o pouco de poder que ela exercia sobre mim, o que a agradava muito, principalmente no primeiro ano de seu reinado.
        Alimentação, vestuário, vigilância, privacidade, quase tudo em mim tinha dono e não era eu, era a “Leoa”.
        Às vezes, eu passava horas e horas trancada no quarto imaginando uma vida simples, com pais, irmãos, vizinhos, amigos e festas. Quando eu tinha quinze anos tudo que eu queria era ser normal. Palavra impossível no momento em que eu passei a ser dona de um império, eu tinha aulas em casa com professores particulares, a Leonor dizia que era para minha própria segurança, por causa de seqüestros e tal. Compras? Eu fazia geralmente quando íamos a Atlanta, quando o shopping estava fechando ,e, no final de expediente do comércio em grifes preferidas por Leonor. Geralmente, as lojas eram fechadas para que eu pudesse escolher à vontade. Roupas e roupas, acessórios e sapatos que, em sua maioria, eu jamais teria chance ou ocasião para usar.
        Era uma prisioneira em minha própria casa.
        Mas ao invés de ajudar no plano da minha querida tutora, e não ter em quem confiar a não ser nela, eu percebi a tempo tudo o que acontecia de errado na casa e nunca me deixei enganar. Com o tempo nossa relação se tornou cada vez mais desconfortável a ponto de quase não mais existir. O que me ajudava a não perder a cabeça era a minha amizade com o Andrew, o Bill colocou esse nome nele e ele se orgulhava de seu nome, não admitia apelidos. Mas eu sempre o chamei de Drew.
        O Drew e eu nascemos quase no mesmo dia, ele era um dia mais velho que eu e só por isso se sentia no direito de exigir ser respeitado por ser mais velho. Ele morava na propriedade com sua mãe, na residência dos empregados, desde que o velho se casara com Leonor. Sally, esse era o nome de sua mãe, ela cozinhou para o senhor Grant todo esse tempo e em seu testamento ela herdara parte da casa. Porém, continuava trabalhando de cozinheira para nós, como se não soubesse o que fazer com o que tinha ganho.
        Ela era doce como os pêssegos da Georgia, e devia ter no máximo, trinta e oito anos, e apesar de não se cuidar tanto quanto sua patroa era bem mais bonita que a desagradável Leonor.
        A Sal, como meu velho a chamava, cheirava a rosas, sua pele era de um branco dourado, seu sorriso era espontâneo e seus abraços calorosos. Como eu gostava dela e do Drew! Os cabelos da Sal eram vermelhos ondulados e os olhos azul celeste. Eu quase não lembrava do jeito da minha mãe, mas acho que se ela fosse viva teria que ser como a Sally.
        O Drew era alto, corpo mediano, rosto simples de traços suaves como o de sua mãe, olhar acolhedor castanho, cabelo de fogo, e bem mais branco que a Sal, ele nunca conheceu seu pai e a Sal nunca falou dele, mas o Drew parecia muito tranquilo quanto a isso. E acima de tudo, ele era o meu melhor amigo desde que eu me conhecia por gente. Crescemos em volta daquela mansão, brincando no bosque próximo a propriedade, subindo em árvores e medindo forças como dois meninos quando brincam de luta. Eu o vencia todas às vezes, mas conforme crescemos deixamos de brincar, o covarde dizia que não queria me machucar.
        Quando eu falava com Drew sobre os planos que eu tinha após o meu aniversário, ele não parecia gostar muito. Mas apesar de sua cara de “não estou certo se essa é a melhor opção”, ele não me recriminava, apenas dizia:
        - É melhor pensar em levar o necessário para você não ter que ligar pra casa chorando feito um bebezinho e pedindo ajuda pra voltar.
        Depois batia no meu ombro, sorrindo:
        - Você deve saber o que está fazendo.
        Eu sempre gostei disso nele e se eu não tivesse tanta certeza sobre ele nunca deixar a Sal sozinha e sobre ela nunca deixar a casa, eu levaria os dois comigo.
        Mas essa era uma preocupação para daqui a seis meses, tudo o que eu podia fazer agora era me lavar, me vestir e descer para a tão importante conversa.
        Coloquei o meu jeans favorito, com uma camiseta branca, sequei um pouco os cabelos com uma toalha, penteei e sacudi para deixá-los solto, pensando não haver tempo de secá-los direito, em seguida calcei sandálias de dedos e sai do quarto.

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