Capítulo
6
Surpresa do passado
Mal o dia clareou e eu pulei da cama,
dois pesadelos num dia e todo o turbilhão de coisas que estavam acontecendo ao
meu redor, estavam sugando minhas forças e eu precisava reagir.
Tomei uma ducha, vesti um short que
estava pendurado numa cadeira do quarto, coloquei uma camiseta preta, sandálias
e desci disposta a tomar um café da manhã completo na cozinha de preferência,
trocando conversa com a Sal e o Drew.
Mas quando me aproximei da sala de
visitas vi que a Leonor conversava animada com alguém, tentei me aproximar e
gelei quando ela me viu. Mas, ao invés de me olhar duramente, ela imediatamente
sorriu e acenou com a mão me chamando.
-Mas um dia como o anterior e eu vou
precisar de calmantes muito fortes.
-Elizabeth, venha até aqui. Tem uma
pessoa que deseja ver você.
-Bom...dia!
Eu disse sem acreditar no que via.
-Bom dia! Ora, ora! Da última vez que a
vi, era apenas uma menina e em pouco mais de dois anos vejo que se tornou uma
linda mulher.
-Meu Anthony sempre foi um cavalheiro!
Leonor dizia sem tirar os olhos dele.
- Obrigada Anthony! Faz mesmo muito
tempo desde a última vez que nos vimos, eu acho.
Eu parecia uma segunda Leonor
respondendo a ele. Não conseguia acreditar que ele estava ali. Pensei que ao
menos demoraria um mês para isso acontecer. Mas, o mais estranho é que eu não
estava chateada em vê-lo, mesmo sabendo que sua mãe nem ao menos esperou eu me
recuperar do susto. Mesmo desconfiada de que ele estava ali com o intuito de
fazer cumprir as bobagens que ela tinha empurrado pra cima de mim na noite
anterior.
Os meus olhos não piscavam, ele estava
mudado. Ele era dez anos mais velho que eu e não, eu nunca tive paixões por
homens mais velhos. Aliás eu nunca tive paixões por ninguém. Não que eu me
lembre.
Mas esse Anthony, esse... era mais
bonito do que o que eu conhecia. Será que era ele mesmo?
-Elizabeth?
Leonor olhava para minha cara de
surpresa e seu meio sorriso se estampou no seu rosto tão automaticamente que eu
tive que inventar uma desculpa qualquer e correr até a cozinha.
-Eu tenho que ir.
Assim que eu entrei o Drew disparou:
-Você viu quem chegou? Anthon...iergs!
-Vi.
-O que você tem? Acordou mais cedo e tá
com uma cara...
-Cara? Qual cara?
Respondi assustada e corri para janela
tentando ver o meu reflexo. Ó! Parecia horrível. “Será que ele me viu desse
jeito?”
-Por que está tão preocupada?
O Drew perguntou pegando uma maçã na
fruteira, mordendo e mastigando continuou a falar:
-A Sally, falou que vocês tiveram uma
reunião ontem com o doutor gravata e a “Leoa”. Ela disse também que você não estava
nada bem. Mas eu acho que você está ótima.
Ele chamava a mãe pelo nome, assim como
eu costumava chamar o vovô de Bill.
Desconfiada que ele soubesse o porquê
eu o sondei:
- Estou ótima, porque ficaria mal com
uma conversinha qualquer?
Não tinha certeza se ele sabia, mas se
ele não soubesse, não tinha certeza se queria falar sobre isso agora.
-Mulheres... dramáticas. Mães... pior
ainda. Acredita que ela nem dormiu direito preocupada com você? Eu disse que
ela tinha que entender de uma vez por todas que você não era mais uma menininha
e que daqui a seis meses, seria dona do seu nariz. Mas quanto mais eu falava,
mas ela chorava.
“Chorava? A meu
Deus, com toda essa confusão eu nem pensei em como a Sal estaria se sentindo.
Definitivamente ele não sabia de nada.”
-Onde está sua mãe?
-No quarto
-
A Sal no quarto?
-O mundo está louco, você madrugando e
a Sally trancada no quarto. Vocês trocaram de corpo?
-Drew, será que dá pra ser mais
esperto? Quando foi que sua mãe ficou jogada nos cantos?
-Nunca. Ela adora trabalho!
-O-ho! Então ela deve está se sentido
mal ou doente talvez.
-Nããão... ela é forte.
-DREW!
-O que?
-Você viu? Foi lá? Perguntou a ela?
Tentou conversar?
-Claro que eu tentei. Ela só pediu pra
eu avisar a ela quando você descesse. Acho que ela quer conversar não sei o que
com você.
-Será que dá pra fazer isso quando eu
descer pela segunda vez?
-Hãm?
-É que eu ainda estou com sono e só
desci pra beliscar alguma coisa antes.
-Ok!
-Então
quando você descer pela segunda vez e tiver conversado não sei o que com a
Sally, me procura quero te mostrar uma coisa.
-O que?
-Depois.
-Fala...
-Vai insistir? Vou chamar a Sally!
-Ok!
Nós dois rimos ao mesmo tempo e eu me
senti bem melhor, por um instante nem me lembrei de toda a confusão instalada
agora em minha vida. Peguei uma maçã e saí. Enquanto estava indo em direção a
escada, uma voz masculina me chamou no escritório. Quando entrei, vi que o
Anthony estava sorrindo pra mim, sentado na mesma cadeira que o senhor Trevor
estava no dia anterior.
-Liz!
Seus olhos brilhavam.
O Anthony nunca foi muito bonito, não
antes. Mas agora ele parecia tão maduro. Não só por sua idade. Leonor nunca
fora a favor do amadurecimento do Anthony.
O Anthony que eu via agora na minha
frente era sereno. Nunca percebi isso e acho até que antes, isso não estava nos
olhos dele. Só agora de perto percebi que os seus olhos eram verdes e seu
sorriso perfeitamente alvo.
Quando ele ficou de pé para se
aproximar de mim, vi o quanto era alto, não era nem sombra do adolescente
magrela, espinhento e maldoso que um dia eu conheci.
Na morte do Bill, eu estava tão
arrasada que não notei ninguém que estava lá. Me lembro vagamente de ter visto
o Anthony de relance, mas na ocasião não percebi a mudança.
Porém agora eu via um homem na minha
frente. Alto, forte, cabelos alourados, olhos escuros, boca e nariz bonitos. Eu
não queria admitir, mas ele estava lindo!
-Liz... Sente-se. Acho que precisamos
conversar.
-Tony, eu não sei se é a melhor hora
pra isso...
-Do que você está falando?
Ele parecia surpreso.
“Ó meu Deus será que sua mãe não disse nada a ele
ainda?”
-Nada.
-Liz...
Ele pausou e olhou firme nos meus olhos
e adivinhando o meu pensamento, falou:
- A minha mãe me contou sobre o
testamento e também sobre o que ela acha disso tudo. Se for a isso que você se
referia. Quero que saiba que diferente da opinião dela, eu acho que não devemos
nos precipitar dessa forma. Podemos achar uma saída menos radical. O que acha?
-Sssi, é.
Estava chocada, definitivamente não
esperava essa atitude. Qual é? Ele é filho da Leonor e até então ele era sua
cópia fiel, o que está acontecendo? O Drew tem razão o mundo está louco. E o
pior eu fiquei ressentida por ele ter descartado tão facilmente a possibilidade
de se casar comigo.
-Tudo bem?
Ele perguntou calmamente sorrindo.
-Eu só ia perguntar...
-Sim?
-O que andou fazendo todo esse tempo
fora?
Mudei imediatamente de assunto. Mais
nervosa do que devia.
-Tomando conta da empresa do Bill, você
sabe, agora sou o presidente.
Não foi uma pergunta. Mas eu respondi
mais rápido do que devia.
-Sim.
-E você? Você sai da mansão? Tem amigos
na cidade? Um namorado?
-Eu? Namorado? Não, não tenho, não saio
muito.
-Então continua de namorico com o
Andrew?
“O queeeeeeeeeeee? Então ele achava que eu
tinha um namorico com o Drew?”
- Eu não tenho nenhum namorico com o
Drew, nunca tive e nunca vou ter. De onde você tirou isso?
-Calma só estava descontraindo... você
parecia tensa.
Parecia?
Agora eu estava em brasa. Que vontade de sair correndo, ele percebeu que eu
fiquei nervosa.
“Ó merda!”
-Não, não estou tensa. Tenho que ir
para o meu quarto, depois falo com você. Você vai ficar não é?
Ele riu descontraído.
-Sim,
vou ficar. Até mais.
-Até...
Naquele dia eu não desci pela segunda
vez, não procurei a Sally, nem o Drew. E quando saí a Leonor estava a minha
espera para o almoço e o Anthony estava lá. Desse dia em diante ele passou a
frequentar a mansão e nós nos tornamos mais íntimos, tanto que sua mãe logo lhe
ofereceu um quarto e ele se mudou para lá.
O Drew não gostou nada disso e desde
que o Anthony e eu nos tornamos amigos ele passou a me evitar.
Seis meses se passaram e no dia 15 de
dezembro de 2008...
Eu estava lá nervosamente vestida de
branco seguindo por um corredor com um lindo tapete vermelho aos meus pés,
convidados nas laterais, a área da mansão lindamente ornamentada com rosas
brancas e um noivo em minha frente a esperar no altar.
Há seis meses atrás eu estava
completamente apavorada com a idéia de casamento. Hoje, eu estou tão ansiosa
por isso que nem me reconheço.
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