Quantas chances se pode ter de retornar a vida?

EÓRIA é um blog criado para divulgar a trilogia de mesmo nome, cujo o livro um da série, “O retorno da guerreira”, conta a história de uma sociedade de vampiros que foi obrigada a se refugiar no subsolo para sobreviver a partir da rivalidade desencadeada entre vampiros e lobisomens...

terça-feira, 14 de agosto de 2012


Capítulo 3
                           O testamento de Billie Grant

        A mansão era um lugar confortável pra mim, era lá naquela casa que todas as minhas lembranças pareciam vivas. Todas as vezes que eu descia aquelas escadas era como se em seguida o velho Bill Grant surgisse e com seu olhar vivo e seu sorriso largo me apressasse escada abaixo dizendo:
        “- Pronta para mais uma batalha, minha pequena guerreira!”.
        Ele sempre me chamava assim, ele sempre estava me lembrando que cada dia era uma batalha na vida e ao final o que contava eram suas pequenas vitórias sobre si mesmo, sua cautela e resignação para vencer a derrota e lutar no dia seguinte. E, acima de tudo, nunca desistir. Ele nunca desistiu de nada, não que eu me lembre.
         “Lutar e vencer ou recuar e planejar para a próxima batalha”. Esse era o seu lema.
        Sem sentir que já havia se passado meia hora, ao chegar à porta do escritório que estava aberta, pude ver a Leonor sentada em uma cadeira imponente de couro atrás de uma mesa de aparência austera, pesada e escura. Aquele foi o único lugar em que ela não pode decorar, o Bill a proibiu. Ela estava tensa e impaciente. Enquanto isso o senhor Trevor estava em sua frente sentado em uma das duas cadeiras que ficava em frente ao móvel, estrategicamente afastadas uma da outra, e, ambas, de frente a Leonor. O Sr. Trevor não parecia impaciente, porém notava-se um nervosismo em seus olhos e suas mãos apertadas uma contra a outra.
        Quando me viram, automaticamente ela apontou para cadeira vazia em sua frente sem dizer uma só palavra, me dando uma olhar lascivo. E virando-se em direção ao senhor Trevor ela disparou:
        - Agora podemos começar logo com isso senhor Trevor?
        O que me fez deduzir que ela quis saber antecipadamente do que se tratava, mas que dessa vez o senhor Trevor não pode ser conivente. Entrei, fechei a porta e caminhei em direção a cadeira vazia.
        -Bom dia senhorita Elizabeth!
        -Bom dia senhor Trevor!
        -Muito bem...
        Ele fez uma pausa, olhou para mim e prosseguiu:
        - Após a morte do seu avô, o senhor Billie Grant, o testamento foi lido parcialmente aos interessados...
        Antes que ele pudesse continuar Leonor cortou suas palavras.
        - O que? Mas como é possível ter sido... de forma parcial... eu não entendo... isso não é certo...
        Eu também fiquei surpresa, não conseguia pensar no que poderia ser aquilo de parcial que o Bill poderia ter feito.
        - É o que eu gostaria de explicar senhora Grant.
        Disse ele, dando uma pausa e olhando para ela, para ter certeza que não seria mais interrompido.
        -Bem, o senhor Grant, deixou um testamento parcial após sua morte que deveria ser apresentado imediatamente após todos os tramites legais aos familiares e interessados em questão. Uma das cláusulas, porém do testamento definitivo impedia este de ser lido antes do prazo, e isso só seria possível quando faltasse apenas seis meses antes da maior idade da senhorita Grant, herdeira de todos ou quase todos os seus bens.
        -Leia!
        Impacientemente eu ordenei.
        - Pois bem. Todos os bens, contas, ações, propriedades e inclusive essa casa...
        Casa? Eu pensei e rapidamente falei.
        -Espere senhor Trevor, se a casa está incluída nesse testamento definitivo, então a Sally deveria estar aqui, não deveria?
        -De fato sim.
        -Vamos logo com isso senhor Trevor.
        Leonor replicou.
        Mas o senhor Trevor muito calmamente se fez ouvir:
        -A senhorita Elizabeth de fato tem razão quanto à presença da outra parte interessada, precisamos que ela esteja presente, não posso dar continuidade sem ela.
        Insatisfeita, Leonor passou por nós e abriu a porta pesada a nossas costas, chamando uma das empregadas bufou:
        - Vá chamar a cozinheira! Diga para ela vir ao escritório rapidamente!
        A pequena só teve tempo de dizer um singelo, sim senhora. Ignorado por Leonor com um balançar de mãos.
        Em menos de cinco minutos a figura de Sally se fazia presente no escritório.
        -Senhora, mandou me chamar?
        Sally disse com simplicidade.
        Leonor por sua vez a olhou desgostosamente dos pés a cabeça como era de seu costume e disse:
        -Sim, arranje um lugar para sentar-se e ouça.
        Eu sorri para ela, ela retribuiu e sentou-se próxima a mim em uma cadeira esquecida no canto da sala, sem nada dizer. Porém seu olhar me dizia que ela compreendia a urgência do seu chamado até aquela sala e do que se tratava a pequena reunião.
        -Bom...
        Falou o senhor Trevor testando a garganta e bebendo um pouco da água de um copo que estava próximo a ele na mesa.
        - É melhor continuarmos de onde paramos.
        E sem se preocupar em explicar nada a Sally ele continuou:
        - O senhor Grant deixa a sua herdeira e neta senhorita Elizabeth Grant, todas as suas posses e metade desta casa, juntamente com suas ações, contas em banco e tudo mais que lhe pertencia definitivamente assim que esta atingir a maior idade.
        -Isso já sabemos, qual é a novidade senhor Trevor, diga sem hesitação.
        Leonor esbravejou, quase não se contendo de tanto nervoso.
        -Bem, a novidade em questão...
        Ele disse dando uma pequena pausa:
        - É que a senhorita Grant, somente herdará tudo, caso ela se case dentro de seis meses. E isso inclui a parte da casa que pertence à senhora Sally Cupper. Se a menina não se casar, tudo que pertenceu ao senhor Billie Grant, pertencerá automaticamente ao Estado.
“O queeeeeê? O quê? Como?”
         Eu não conseguia parar de pensar nisso, não tive reação, não tive palavras, a saliva sumiu da minha boca e garganta. E os pensamentos me atropelavam feito loucos, sem controle.
 “Casar? O velho estava louco? Eu só tenho dezessete anos, pelo amor de Deus, corrija esse erro, isso só pode ser uma das piadas do Bill, só pode ser brincadeira.”
        Sally encostou em mim com um copo com água que eu nem vi ela pegar, ela me deu com sua calma habitual e me dizia palavras de consolo... só depois de beber a água entendi o que ela estava dizendo.
        -Vamos menina se acalme, você precisa respirar, precisa se acalmar está pálida.
        Voltando a mim, eu gritei um pouco rouca e entre os dentes:
        -Senhor Trevor, isso é um engano, um erro, meu avô jamais faria isso comigo.
        O que eu ouvi em resposta remexeu meu estômago:
        -Criança, infelizmente, não há nenhum erro, seu avô estava inteiramente lúcido e sabia muito bem o que estava fazendo quando impôs essa condição como cláusula do testamento, eu mesmo fui testemunha.
        Ao dizer isso, Leonor arregalou os olhos para ele, como se estivesse se perguntando; se ele sabia disso esse tempo todo e porque diabo não contou nada a ela?
        Mas ao encarar minha tutora vi seu rosto mudar suavemente do tom assustado, para o seu meio sorriso e isso me fez pensar que ela pode ter pensado que desta vez tudo estava muito melhor para ela. E me deixou ainda mais nervosa. Um olhar de triunfo naquela tempestade, não era bem o que eu achei que veria mesmo na sisuda “Leoa”.











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