Quantas chances se pode ter de retornar a vida?

EÓRIA é um blog criado para divulgar a trilogia de mesmo nome, cujo o livro um da série, “O retorno da guerreira”, conta a história de uma sociedade de vampiros que foi obrigada a se refugiar no subsolo para sobreviver a partir da rivalidade desencadeada entre vampiros e lobisomens...

terça-feira, 28 de maio de 2013

Capítulo 9 Eória um mundo novo



                                                  
                                                    Eória um mundo novo

        O lugar me lembrava uma arena de gladiadores só que menor, era uma sala redonda, com arquibancadas ao redor. Em frente, um camarote com três tronos. O do meio se sobressaia sobre os outros dois, estes estavam organizados um de cada lado do trono central. Também dois lugares no centro do círculo. Que eu entendi ser ali que eu e Maviael deveríamos sentar. Percebi também que a arquibancada estava completa e que havia muito mais homens do que mulheres, e que todos os homens se vestiam exatamente como Maviael, com exceção de suas camisas internas por serem da cor preta.
        O chão e as arquibancadas, eram de mármore cinza, menos o púlpito e o trono que pareciam ser de ouro maciço, as paredes eram da rocha do próprio lugar. Num ponto central bem no alto, percebi uma espécie de marcador com o número 10.000 gravado nele. A arquibancada parecia confortável, mas apesar disto eu não me sentia a vontade e enquanto ainda estava distraída, um homem velho se levantou ao lado de destaque próximo ao camarote e disse estar iniciada a sessão.
        Me senti coagida como uma criminosa prestes a ser julgada. Todos estavam de pé, inclusive nós. Um homem entrou no camarote e todos o saudaram, acenando ele assentiu que todos sentassem.
        Eu não conseguia vê-lo direito, estávamos num local muito claro, onde o homem estava parecia ter uma sombra. Todos sentamos em nossos lugares e eu percebi que os dois tronos ao seu lado estavam vazios. O silêncio tomou conta do lugar. O mesmo homem acenou para que prosseguissem com a reunião.
        O homem velho que inicialmente havia aberto a sessão, levantou-se por detrás do púlpito e sem demora tomou a palavra:
        -Quando o marcador indicou a chegada de Ádria na terra a cerca de dezoito anos atrás, nós enviamos o nosso melhor caçador de encarnados, o guerreiro imortal Maviael de Eória, para que a encontra-se e a trouxesse para nós, porém...
        Esse “porém” me fez gelar, o homem era frio e inquisidor.
        -Porém, Maviael sumiu e a menos que o marcador retrocedesse em sua marca sabíamos que ele não havia sido morto pelos malditos lobos, sua falta de comunicação conosco, feriu a lealdade e o juramento dos caçadores e demonstrou seu imenso desrespeito ao seus superiores, a esse conselho e ao seu rei.
        -Que prova nos dá Maviael de que está é a Ádria?
        Maviael levantou-se e olhando para o rei o saudou.
        O rei assentiu com a cabeça e ele pôs-se a falar:
        -Por lealdade ao meu rei e honra ao meu juramento de caçador, eu Maviael de Eória, afirmo diante deste conselho que a jovem que trago comigo é o último espírito perdido dos nossos guerreiros.
        Maviael se fez pronunciar de maneira honrada e segura.
        -Palavra? É só isso que nos traz? Ela tem a marca?
        O ancião retrucou venenoso.
        -Sim. Assim que nasceu no condado eu a identifiquei. Estive muito perto da jovem todos esses anos. Por muitas vezes tive oportunidade de trazê-la, mas por uma série de desencontros não pude, o humano que a criava a levava para longe muitas vezes, e quando reaparecia estava sempre cercada de humanos. Além disso, eu não estava sozinho. O Bautox estava lá.
        Nesse momento a assembléia se inquietou e todos falavam ao mesmo tempo, até que o rei com um gesto fez todos se calarem.
        -Você se certificou de não deixar vestígios Maviael?
        O ancião o sondou.
        -Sim senhor.
        O ancião olhou em direção ao rei, fez sinal e se voltando para frente pronunciou o fim da sessão.
        O rei levantou-se e saiu pelo mesmo lugar que entrou. De relance vi que se vestia como os outros, porém a cor de suas roupas eram brancas. Após sua saída, a assembléia começou a esvaziar.
       Me voltando para Maviael que continuava de pé, olhando para frente com os punhos cerrados, eu indaguei:
        -Agora posso perguntar?
        Ele relaxou, se virou em minha direção e disse:
        -Sim, você pode.
        -Será que você pode me contar o que é tudo isso? Eu não estou entendendo nada.
        Desabafei desanimada e mais assustada do que o normal.
        -Tudo bem, mas antes vou levá-la até sua dependência.
        -Hum?
        -É possível que o rei a chame ainda hoje. Venha e não faça essa cara eu vou responder todas as suas perguntas... se eu conseguir...
        E eu vi um sorriso em seu rosto. Não sei por que, mas eu confiava nele como se o conhecesse a vida inteira.
        Saímos por onde entramos e chegamos novamente em frente ao elevador, dessa vez uma linda mulher negra e alta vestida como uma versão feminina dos trajes masculinos nos cumprimentou. Seus olhos eram cor de amêndoas e seu rosto era tão cordial, que eu a cumprimentei de volta com um sorriso, Maviael apenas acenou com a cabeça olhando-a firmemente nos olhos. Cada um apertou um símbolo diferente no elevador e calados subimos alguns andares.
        A porta do elevador se abriu e nós saímos deixando a bela mulher para trás.
        Desta vez não havia corredor e sim um vasto andar aberto, muito parecido com um shopping. Jardins de inverno decoravam o lugar, bancos como se fosse uma praça e uma estátua de um guerreiro de punhos cerrados na altura da cintura em reverência, assim como vi Maviael fazer mais cedo, ela era imensa no centro do andar. Passamos pela estátua e seguimos em frente, então comecei a perceber que ao redor daquele lugar, aos invés de galerias, haviam portas, cada uma de uma cor, algumas com jardins em frente e outras sem nada, e enquanto me perguntava o que era tudo aquilo? Paramos e Maviael se virou mais uma vez, passou por trás de mim e me empurrou para frente, pensei que ia bater com o rosto na porta, fechei os olhos e ela se abriu.
        Ele sorriu e me explicou:
        -Normalmente precisamos de um pouco de sangue para nos registrar como proprietários, mas achei que você já tinha sangue o suficiente para isso.
        -Hummm?.
        Ele sorriu e ao entrarmos vi o vestido pendurando por um cabide numa sala, que parecia ser um pequeno apartamento.
        Foi quando me dei conta, que ao entramos na caverna eu dei minha mochila a ele e não o vi mais com ela, eu estava tão distraída que nem percebi que não carregava nada nas costas.
        -Uau! Isso é lindo! É uma graça esse lugar! Me sinto em casa.
        Não a casa em que eu vivi nos últimos treze anos. Mas meu espaço, como eu sempre sonhei ter. O visual da sala era clean, arejado e moderno, com ventilação artificial e inteiramente equipada com eletrônicos de última geração. Não parecia que estávamos debaixo de toda aquela terra e rocha. Havia televisão e home theater. As paredes eram brancas, os moveis de metal, menos o sofá vermelho bastante confortável na sala. Tela de Salvador Dali na parede (A menina na janela), e...
        -Eu sei. Essa será mesmo a sua casa de hoje em diante. Pelo menos até...Você deseja alguma coisa em particular...Adri...Liz?
        -Roupas, eu acho...ainda não sei se tenho tudo aqui. Não consigo acreditar que é meu tudo isso.
        -Tem roupas pra você no closet. Eu estou perguntando se você precisa de algo em especial, particular. Vai ser difícil, mas acho que posso trazer para você.
        -Você diz...ir até a mansão e pegar meus pertences?
        -Sim. Se for importante pra você.
        Ele disse isso olhando nos meus olhos de uma forma que eu tive que desviar o olhar.
        -Não, não precisa. Não quero me lembrar de nada da minha velha vida. Só preciso que você me explique o que está acontecendo?
        -Antes, você não deseja se alimentar, tomar banho, ficar a vontade?
        -Sim. Mas se eu deixar você sair alguma coisa me diz que não vou ter essa oportunidade novamente.
        Ele riu e piscou pra mim. E levantando as mãos para o alto, disse:
        -Agora você me pegou, era isso mesmo que eu iria fazer. Sair de fininho!
        Gargalhamos juntos e ele continuou:
        -Relaxe, eu espero por você. Prometo que não sairei daqui até que você tenha todas as suas perguntas respondidas. Ok?
        -Ok!