Quantas chances se pode ter de retornar a vida?

EÓRIA é um blog criado para divulgar a trilogia de mesmo nome, cujo o livro um da série, “O retorno da guerreira”, conta a história de uma sociedade de vampiros que foi obrigada a se refugiar no subsolo para sobreviver a partir da rivalidade desencadeada entre vampiros e lobisomens...

terça-feira, 5 de março de 2013

Capítulo 8 O caçador de encarnado




                                                            Capítulo 8
                                                   O caçador de encarnado

        Não sei quanto tempo fiquei sem consciência, mas assim que a minha cabeça começou a funcionar, minha primeira sensação foi o medo de estar morta. Num impulso abri os olhos e percebi minha vista embaçada, era um teto de um lugar estranho. Não havia muita luz ali. Virei a cabeça de lado antes de tentar mexer o meu corpo e senti-la quase a estourar de dor. Ao redor tudo parecia velho, abandonado e assustador. O cheiro era horrível, cheiro de coisa podre, de carne podre e o calor que eu sentia... Meu Deus! Era dezembro, como podia estar tão quente? Tentei virar o corpo para o outro lado e a dor foi terrível, então virei só a cabeça novamente e muito dificilmente consegui enxergar, fogo? Fechei os olhos e...
        -A merda...!!! Não acredito! Merda! Merda! Morri virgem e fui para o inferno!!! É muita falta de sorte.
        -Você não foi para o inferno.
        Uma voz forte de homem falou perto de mim.
        Levei um susto, tentei levantar, mas ele segurou os meus ombros me imobilizando para que eu permanecesse onde estava. A dor do esforço me despedaçou por dentro. Então ele disse:
        -É melhor não fazer muito esforço, você ainda está se recuperando.
        -Quem é você? Que lugar é esse? Eu estou morta?
        Ele riu alto e disse:
        -Muitas perguntas. Mas vou responder estas e nenhuma a mais, ok?
        Eu não entendi que graça tinha as minhas perguntas e que graça tem uma situação daquelas, mas concordei.
        -Sim.
        -Meu nome é Maviael, eu sou um caçador de encarnados, você está num abrigo na floresta de Chattahoochee e não! Você não morreu!
        -Você me salvou? Você viu aquele homem? Você o conhece? O quê...?
        -Xiiiii! Já disse que não responderei mais a nenhuma pergunta. Agora descanse. Precisa se recuperar.
        -Eu, não sei se posso confiar em você...
        -Não tem escolha Ádria. Durma.
        Não tive tempo para pensar, um cheiro de ervas surgiu ao meu redor e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa apaguei novamente.
        A segunda vez que abri os olhos percebi que a minha visão estava ótima, meu corpo já não doía mais, nem minha cabeça. Tudo parecia tão distante, como se tivesse sido um pesadelo e só. Pensei ter sonhado com um homem chamado Maviael, que me salvou. Enquanto pensava nisso permaneci olhando para o teto e foi então que reconheci o abrigo.
        Era verdade... eu estava num abrigo de caçador, não parecia tão ruim assim dessa vez. Era escuro e bagunçado, tinha um cheiro ruim ainda, mas não mais de coisa podre, estava mais para mofo. Mas nem sinal do tal Maviael.
        Sentei na cama improvisada que estava ao lado de uma lareira e percebi que ainda estava vestida com as roupas do casamento. O vestido estava rasgado, horrivelmente manchado de marrom, aquilo era sangue, meu sangue. Ele estava tão coberto de sangue que não entendi como pude ter escapado dessa com vida.
        Fiquei de pé e mexi o corpo, eu estava ótima, abaixei a parte de cima do vestido para ver meu ferimento e...o que? Não tinha nada lá, nem uma mancha, nem cicatriz.
“Não entendo. Aquele homem afirmou que eu não estava morta, então como pode ontem eu ter levado dois tiros e hoje não haver marca alguma?”
        Sem que eu percebesse Maviael entrou e falou:
        -É tudo muito novo pra você. Entendo que esteja surpresa.
        Droga eu estava nua, ou seminua, ele não devia ter entrado assim. Suspendi a roupa e quando olhei para ele não pude acreditar no que vi.
        Ele era o homem mais atraente que eu já conheci. Só de olhar, daria a ele vinte e poucos anos, cabelo preto, liso, olhos castanhos, queixo quadrado, boca olhos e nariz perfeitos, forte, mas como se fosse musculoso, não como se fosse gordo, alto mas não muito e sua voz agora parecia tão firme e confiável. Estava vestido com calças pretas e sobretudo preto aberto, de forma a deixar a mostra a blusa branca de botões.
“Será que ele também estava no casamento? Será que conhecia o Anthony? Será que estava ali a mando dele?”
        Comecei a pirar... Quando ele me interrompeu.
        -Ádria? Você está bem? Trouxe algo para você se alimentar.
        -Meu nome é Liz, acho que você me confundiu com outra pessoa.
        -Hahahahaha!
        Ele riu um riso solto como da primeira vez e logo em seguida acrescentou:
        -Eu sei que agora você se chama Elizabeth Grant. “Ádria” é uma longa história que no tempo certo você vai saber. Agora, é melhor se apressar e se alimentar. Partiremos em seguida.
        -Ótimo preciso ir até a polícia e denunciar aquele cretino. Você pode me ajudar no depoimento. Você sabe o que aconteceu com aquele homem horrível da floresta?
        -Polícia? Homem da floresta? E o que você dirá no seu depoimento? Que levou tiros ontem, mas que hoje está completamente curada por milagre? Não temos tempo para polícia. Partiremos para a morada dos imortais hoje mesmo.
        -Hahahaha!!!
        Dessa vez fui eu quem não conseguiu se conter.
        Repeti com um ar de graça ainda nos lábios. Imitando seu tom de voz.
        - Partiremos para morada dos imortaaaais!!!
        Ele me olhava fixamente e sem a menor graça no rosto. Perdi o riso no mesmo instante e percebi que ele falava sério comigo.
        -Quando você diz morada dos imortais, você quer dizer morada dos imortais?
        Foi a coisa mais estúpida que eu já perguntei na vida.
        -Sim. Coma, vista-se, que em seguida partiremos.
        Seu tom descontraído e respeitoso agora soava mais como ordens de um general.
        -Desculpe, mas você não entendeu senhor Maviael, eu fui vítima de tentativa de homicídio ontem à noite, a mando do meu próprio esposo, no dia do meu casamento. E ele agora deve estar lá rindo de mim achando que eu estou morta, herdando o que é meu. Eu tenho que pensar como organizar as coisas com toda essa confusão, eu...
        -Ádria, você não pertence mais ao mundo dos humanos, suas preocupações de antes, não servem mais de nada, você mudou.
        E apontando para uma jarra na mesa, olhou para mim, sorriu e disse:
        -Quando terminar me avise. Partiremos em seguida, e não se preocupe, suas dúvidas  serão esclarecidas ao chegar em casa...
        Mundo dos mortais?  Casa? Eu ia surtar naquele momento, mas, ao olhar para ele percebi que ele estava tão seguro do que disse que decidi não discutir, supus que ele não me responderia mais do que já respondeu. Parecia ansioso em sair logo dali.
        Fui até a mesa e estava tão sedenta que nem procurei um copo, virei a jarra na boca e senti um gosto delicioso. Nunca tomei uma bebida como essa, bebi até o fim e quando afastei a vasilha da boca, olhei curiosa para dentro para ver com que se parecia. Tomei um susto tão grande que deixei a jarra cair... era s-a-n-g-u-e!
        -Ó MERDA!
        Gritei tão alto. A porta se abriu com um estrondo e Maviael estava de pé olhando pra mim assustado, procurando por alguém no abrigo.
        -Quem é você? O que fez comigo? Isso é sangueeee...
        -Sim é. E eu também já respondi a você quem sou eu. Agora é melhor partimos.
        Chegaremos em casa cedo se sairmos agora. Vista-se, está suja.
        Ele falou apontando para uma mochila que estava junto a mesa. Parecia nervoso demais.
        Eu olhei e assenti com a cabeça, decidi não fazer mais perguntas e me virei em direção as roupas para vestí-las. Ele ficou ali e eu virei em direção a ele me perguntando se ele ficaria olhando eu me trocar.
        -Desculpe. Deixarei você à vontade. Qualquer coisa estarei aqui fora.
        -Como se isso me acalmasse!
        Resmunguei.
        Abri a mochila e tirei as roupas. Jeans surrada, camiseta branca e tênis, pareciam com as minhas roupas preferidas. Me despi do vestido e olhei o meu corpo nu, impressionante não tinha marca alguma. Vesti as roupas limpas, depois abri a mochila e joguei o vestido dentro. Estava resignada a guardá-lo até o momento certo de pedir contas pelo que me fizeram. Seria o meu estímulo.
        Abri a porta do abrigo coloquei a mochila nas costas e vi Maviael que estava bem em frente, quando ele se virou eu assenti com a cabeça em sinal de que estava pronta. Sem dizer nada mais, ele começou a andar em silêncio dando espaço para eu o seguir.
        Grandes árvores nos cercavam a medida que caminhávamos, devíamos estar muito longe da estrada agora, o dia estava frio, mas eu não reclamei, apenas continuei seguindo Maviael que agora andava a passos largos e rápidos. Caminhamos por horas sem descanso, mas eu não sentia cansaço algum. Desde que saímos do abrigo não trocamos uma palavra, somente quando eu vacilava em meus passos, ele se inclinava e me apoiava sem nada dizer e ao me equilibrar seguíamos em frente.
        Estava começando a escurecer quando paramos em frente a uma caverna, meu coração batia acelerado, hesitei em entrar pensei que pudesse ter algum bicho, como urso ou algo pior ali dentro. Maviael entrou sem medo e enquanto eu fiquei ali me perguntando se devia entrar ou não, um braço saiu da escuridão da caverna e me puxou firmemente. Ele voltou para me buscar. E sem dizer nada pegou minha mochila.
        Ao entrar na caverna percebi que sem muito esforço, eu conseguia enxergar naquela escuridão, Maviael passou a mão numa pedra no final do túnel e ela abriu imediatamente, depois de passarmos ela se fechou atrás de mim e começamos uma descida por uma escadaria de pedras.
        Depois de muitas direitas e esquerdas cercada de pedra o corredor se alargou e no umbral da abertura pude ler.
        “Bem-vindos a Eória, lar dos guerreiros imortais!”
“Nunca vi nada igual. Como podia existir um lugar assim embaixo da terra?”
        Passamos pela abertura e para minha surpresa o rústico deu lugar ao moderno, passamos por um corredor de vidro imenso e entramos em um elevador, vi Maviael apertar um botão com um símbolo estranho e imediatamente começamos a descer, não sei ao certo quanto descemos, mas parecia uma eternidade. Quando o elevador parou e abriu suas portas, vi mais um corredor de vidro. Ao redor rocha e em frente uma porta metálica que ao nos aproximarmos se abriu.
        Antes de seguirmos, Maviael olhou para mim e disse:
        -Você está sendo esperada no conselho, haja o que houver não fale nada. Apenas escute.
        Ele me olhou incisivamente até ter certeza que eu havia entendido o que ele tinha dito.
        -Tudo bem.
        Eu disse e olhei para ele tão firme quanto ele me olhou e assenti com a cabeça em sinal de entendimento.
        Entramos em outro corredor, mas este não era de vidro, era todo de metal com portas nas laterais, viramos à direita e paramos em frente a uma grande porta escura com um brasão de dois leões brigando.
        Em tom de reverência e gestos que me lembravam um soldado com os dois punhos fechados e erguidos para frente na altura da cintura, Maviael saudou a porta:
        -Com sangue lutamos por Eória!
        A porta se abriu e nós entramos.