Quantas chances se pode ter de retornar a vida?

EÓRIA é um blog criado para divulgar a trilogia de mesmo nome, cujo o livro um da série, “O retorno da guerreira”, conta a história de uma sociedade de vampiros que foi obrigada a se refugiar no subsolo para sobreviver a partir da rivalidade desencadeada entre vampiros e lobisomens...

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Capítulo 10 As respostas



                                                         Capítulo 10
                                                        As respostas

        Refiz minhas forças ali naquele banho. Estava cansada, mas sem sono algum. Deixei a água cair sobre a minha cabeça por um bom tempo, fechei os olhos, mas automaticamente vi a imagem daquele homem grotesco da floresta, a raiva me invadiu e eu sacudi a cabeça lançando para longe aqueles pensamentos. Sequei o cabelo e ao sair do banheiro fui em direção ao closet e para minha surpresa, não encontrei um terno feminino, mas roupas comuns, shorts, calças, blusas e vestidos para todas as ocasiões.
“O que mais poderia me surpreender naquele lugar?”
        Escolhi um vestido simples longo, verde claro e muito bonito, sem surpresa alguma ele se ajustou no meu corpo, fechei o zíper na parte superior e me olhei num grande espelho em frente. Impressionante, meus olhos combinaram com a cor da roupa, os ombros ficaram a mostra, o vestido contornava os meus seios e destacou minha cintura, nos quadris ele era solto e se alongava até os pés. Fui até a penteadeira e em cima havia uma caixa de jóias, dentro peças prateadas, douradas e trabalhadas. Escolhi uma tornozeleira prata com pingentes diversos e dois braceletes pratas iguais, um para cada braço. Me olhei novamente e vi o meu reflexo no espelho eu estava tão diferente, mas completamente à vontade. Estava faminta, porém as respostas que eu precisava eram mais urgentes do que a fome.
        -Liz, agora é a hora da verdade garota!
        Estava tudo tão quieto, entrei na sala e olhei ao redor, não vi ninguém. Sorri para mim mesma, balancei a cabeça e disse:
        -Saiu de fininho!
        Antes que eu desse o próximo passo, Maviael falou:
        -Procurando por alguém senhorita?
        Ele estava atrás de mim, quando me virei o vi encostado na lateral da entrada de um outro cômodo do apartamento. Ele me olhou surpreso e fixamente nos olhos, eu desviei o olhar e ele disse:
        -Com o tempo você vai perceber que a palavra dada por um vampiro é mais certa do que a própria morte.
        Vampiro, esse era o termo que eu temia. Embora eu já soubesse intimamente que ele surgiria, todo esse tempo procurei fingir naturalidade. Ainda parecia um pouco absurdo pra mim, apesar de todo esse novo mundo está bem na frente dos meus olhos, eu não sabia o que pensar.
        -Tem certeza que não quer se alimentar antes? Vai ser uma longa história.
        -Não tenho certeza de nada.
        -Venha até o estoque.
        Ele me chamou com as mãos e entrou no cômodo. De frente a uma geladeira imensa, ele me olhou e disse:
        -Você vai se acostumar com tudo mais rápido do que imagina.
        O eletrodoméstico tomava toda a parede lateral do lugar, eram quatro portas largas de inox, uma ao lado da outra. E quando ele abriu havia tanto sangue dentro que eu fiquei tonta.
        Também percebi armários e uma pia, parecia uma cozinha mas não seria esse o termo adequado. Talvez estoque fosse mesmo a descrição certa para o lugar.
        Maviael pegou dois copos alongados, encheu com o líquido vermelho, estendeu a mão para que eu pegasse um, levantou como se brindasse e tomou. Eu fiz o mesmo, a princípio achei que não conseguiria, mas quando encostei nos lábios, o cheiro e o sabor me fizeram perder os sentidos e senti novamente a ânsia de beber de forma incontrolável, o que fiz prontamente.
        O prazer daquele momento durou pouco, ao terminar olhei para o copo ainda em minhas mãos distraidamente e quando voltei a mim, fiquei envergonhada ao perceber que o Maviael me olhava com ar de entendimento.
        -Por que tanto sangue para um só vampiro e de onde vem tudo isso?
        -Nós precisamos nos alimentar com pelo menos três litros de sangue por dia.
        Por isso estocamos 30 litros de sangue em cada dependência por semana. Sempre colocamos a mais para caso de emergências. Todo esse sangue que você vê no estoque é artificial. Beber sangue in natura é proibido e punido com pena de morte. Já que geralmente o ato leva os humanos à óbito.
        -É melhor sentarmos.
        E passando por mim foi até a sala e sentou-se.
        -Quem são todas aquelas pessoas daquela sala e o que elas fazem?
        -Fazem parte do conselho. O conselho é composto de duzentos vampiros. Eles não se reúnem sempre, apenas para tratar de assuntos importantes.
        - O homem de branco... quem é?
        - É o nosso rei Irad.
        -O que significa as cores das roupas?
        Ele riu surpreso e respondeu:
        -O conselho é composto pelos nobres. O título de nobreza é devido ao grau de antiguidade das suas famílias, não aos membros delas. A cor branca pertence a instância maior, ou seja, ao rei e aos seus herdeiros.
        -Não dos membros delas?
        -Nenhum lugar no conselho pode ser substituído, um lugar só pode ser preenchido somente se tratando de reintegração. Por exemplo, um guerreiro encarnado encontrado, mesmo tendo renascido a pouco tempo, toma parte no conselho, se pertencente a algumas daquelas famílias, pois subentende-se que o lugar era dele anteriormente.
        -Vampiros possuem famílias?
        -Alguns, no início, foram transformados com toda sua família. Algumas delas existem há séculos. Mas nem todos os transformados sobreviveram a mudança. Porém os que sobreviveram instituíram ordem e liderança.
        -Como a lei do consumo artificial de sangue?
        -Sim.
        -Se beber sangue diretamente de um humano é proibido, como conseguiu sobreviver longe daqui?
        -Dos lobos (lobisomens), eles vivem na superfície e precisam tanto de sangue quanto nós. Embora o Condado fique bem longe do nosso local de origem, a alguns séculos começamos a perceber uma imigração de lobos para a região. Eles assim como nós precisam de um estoque, o deles é vasto e sem muita vigilância, alguns atacam humanos sem represálias de nossa parte, pois, eles acreditam que fomos eliminados na grande batalha. Uma vez que o estoque não é vigiado, fica fácil de conseguir pegar o que precisa, mas eu nem sempre recorri a esse meio, ora bebia do estoque dos lobos, ora bebia de animais da floresta, o gosto é péssimo e o valor energético é menor, mas serve. Aliás, o sangue artificial foi descoberta dos lobos, nós tínhamos um projeto antigo, antes da grande batalha acontecer. A pedido do rei, lobos e vampiros trabalharam juntos para descobrir como desenvolver sangue, um lobo cientista chamado Nesmut foi quem desvendou o processo primitivo. O povo estava passando fome e o rei tinha pressa. Com grande esforço conseguimos chegar a um extrato muito parecido com o que temos hoje. Daí quando tivemos que nos esconder, retomamos as pesquisas de onde paramos, a princípio os eorianos saíam da caverna em grupos para se alimentar mas era muito arriscado para nós, aceleramos as pesquisas e desenvolvemos o sangue, a partir daí os vampiros não tiveram mais necessidade de ir até a superfície, a não ser para resgatar os encarnados. E pelo visto os lobos também levaram adiante as suas pesquisas e assim como nós tiveram êxito.
        -Deve ter sido difícil.
        -Sou um caçador, estou acostumado.
        -Eu nunca vi um lobisomem em Clayton, nem nunca ouvi falar sobre isso.
        -Existem muitas coisas que você nunca ouviu falar. Os lobos vivem em bandos, moram como nós em sua própria reserva, mas agem como humanos e se misturam entre eles. Nós costumávamos fazer isso até a grande batalha, onde os lobos mataram muitos de nós e tomaram o poder.
        - É por isso que se escondem aqui?
        -Sim.
        -O que aconteceu nessa grande batalha?
        Ele puxou o ar e continuou:
        -Há mais de quatro mil anos atrás, Irad, nosso rei, governava as duas linhagens sobre a Terra, vampiros e lobos. No seu governo nunca nos foi permitido massacres de humanos, contudo, podíamos tirar proveito das guerras dos homens, pois, o rei entendia que nas guerras as baixas humanas aconteciam sem a interferência de nenhuma das partes. Mas quando estas passavam e os lobos ou os vampiros sentiam fome e se rebelavam, a matança era sem controle. Então no ano de 522 d. C, o rei Irad tomou uma decisão extrema que mexeu com os dois lados, ele restringiu o consumo exagerado de sangue e delimitou o seu uso para vampiros e lobos. Cada vampiro e lobo só tinham direito a um humano a cada duas semanas. Estando sob pena de morte aquele que desobedecesse a lei. Os lobos não ficaram satisfeitos, eles não têm palavra, mentiram e burlaram a lei e muitos foram condenados. Mas o rei calculou que se continuássemos daquela maneira extinguiríamos a raça humana desse planeta em pouco tempo. Então, quando o rei decidiu que seria feito um senso entre vampiros e lobos e decretou que o limite permitido de transformados tanto para vampiros como para lobos seria de 10.000 habitantes, houve rebelião, a aliança foi quebrada, o rei traído e caçado, e, com ele, todo o seu povo. Como vingança, Sneferu, condenou a morte o filho do rei e sua esposa, com eles mais de mil guerreiros vampiros de valor.
        O reinado de Sneferu teve início e nosso povo fugiu da superfície.
        -Recuar hoje para lutar amanhã!
        Pensei alto tentando entender.
        -Sim isso mesmo.
        Ele viu que eu estava acompanhando e continuou.
        -Havia uma profetiza antiga em nosso reino, cem anos antes da batalha ela profetizou:                                                  “O trono mais alto perecerá e um rio de lágrimas e sangue sobrevirá. Um rei será traído e todo o seu povo pagará por isso, para que sejam purificados das maldades de seus corações”.
        O rei não a ouviu. O conselho não a ouviu. Ninguém a ouviu.
        Quando começamos a nos abrigar no subsolo, ao final de nossas primeiras construções, outra profecia foi feita aos pés do guerreiro imortal.
        “Quando duas mãos injustas tomarem o poder sobre a Terra, o sangue dos guerreiros mortos retornarão a marca estabelecida, um povo esquecido retomará o poder pela mão de uma guerreira renascida, ela trará a esperança; a ela será dada a força sem limites. Somente ela poderá domar o filho selvagem do injusto e unificar os reinos. Então um trono será erguido e a Terra será governada com paz e justiça para todos”.
        -Dessa vez ouvimos a profetiza, e quando Jubal e Jabel, mataram seu próprio rei Sneferu, por causa do trono, há quinhentos anos atrás, deu-se início a profecia. Nosso marcador do senso, símbolo das nossas baixas na batalha, marcou um número a mais e entendemos que deveríamos sair a procura, foi então instituída a ordem dos caçadores de encarnados e a nossa última missão terminaria quando o marcador estivesse marcando 10.000.
        Ele concluiu me olhando seriamente nos olhos.
        -Dez mil? A mesma marca que eu vi num relógio no salão de conferência.
        Eu disse.
        -Sim, você foi nossa última guerreira encarnada.