O Retorno da Guerreira
Capítulo 1
A tutora Leonor
Momento
de angústia... Ele me encontrou... Na verdade, não sei se ele realmente me
encontrou ou se eu o atraí de alguma forma. Algumas pessoas acreditam em
coincidências, mas eu não faço parte delas.
Quem sou eu? Apenas alguém que já
enfrentou a morte algumas vezes, o bastante para saber a diferença entre,
encarar o pior de frente ou fugir para lutar amanhã, e garanto que qualquer que
seja a decisão nunca será fácil.
Cidade de Clayton, Condado de Rabun,
Georgia. 15 de junho de 2008, 07:00 AM.
-Elizabeth, abra a porta!
O barulho era ensurdecedor do lado de
fora, minha tutora parecia querer entrar com porta e tudo dentro do meu quarto.
-Elizabeth querida, tem um assunto
importante o qual quero conversar com você, abra a porta!
Bammm! Bammm! Bam!
Bem, isso era a novidade e era o que me
fazia relutar em abrir, “conversar”, não me lembro quando foi a última vez ou
se houve alguma vez depois da morte do Bill, que ela tenha tido necessidade de
conversar qualquer coisa comigo e usado um tom tão preocupado e suave como
agora. Essa não era a “dona Leonor” que eu conheço. A não ser que o seu cérebro
tivesse sido sugado e com ele toda a frieza, regras e impaciência que faziam da
minha..., da “Leoa” uma das pessoas mais irritantes que eu já conheci.
- Querida eu entendo que você tenha sua
privacidade..., mas será que poderia abrir a porta, é algo importante e do seu
interesse eu garanto. Gostaríamos de conversar em particular com você, está
bem, querida!?
- “Gostaríamos”, ela disse isso? Sussurrei.
Não soava mais suave e sim apelativo o que era ainda mais estranho.
Eu sussurrei ainda mais baixo me
certificando que somente eu ouvisse:
–“Eu
entendo”, “importante”, “do seu interesse”, “querida”, eram muitas palavras
estranhas para mim vindas da boca da Leonor e de uma só vez.
“O que diabos estava
acontecendo afinal?”
Eu acabara de acordar, com um barulho
louco e ainda pensava estar dormindo quando ouvi essas palavras e ao invés de
me animar e pensar que enfim um pouco de humanidade havia se apossado da minha
tutora, vi-me preocupada, sem saber se abria ou não aquela maldita porta,
naquela hora tão indecente.
Leonor era simplesmente a tutora legal
que o meu avô deixou para mim, caso acontecesse alguma coisa a ele. “Leoa”, era
assim que eu pensava nela, como uma leoa no pior sentido da comparação; foi
casada com o Bill por estúpidos quinze anos, além disso ela era vinte anos mais
jovem que ele o que a qualificava para o cargo de tutora... Bill supôs que ela
teria uma vida mais longa que a dele, no entanto, o Bill também achou que o
grande Jhonny, viveria mais tempo, e se enganou. E por falar em engano a
“Leoa” não supriu as expectativas do
Bill quanto a mim, não após sua morte. Se ele achou que ela me amaria como uma
“neta”, ou melhor, “filha”, ele se enganou. A vida na mansão era cada dia mais
incômoda e fria, embora nos respeitássemos. Por pura falta de sorte, ela era o
parente mais próximo que eu conhecia.
Meu pai era filho único e minha mãe
cresceu num orfanato, ela não sabia nada sobre os próprios pais ou parentes.
Quando Leonor se casou com o Bill, o meu pai já tinha se formado, casado com a
minha mãe e eu tinha acabado de nascer na mansão. Nós morávamos em Athens,
Georgia. O meu pai decidiu ficar lá após ter cursado a universidade. Embora
essa distância sempre fosse motivo de discussão entre o Bill e o Jhonny, para a
Leonor era um tanto satisfatório. Meu pai, o “grande Johnny” como o Bill
costumava chamá-lo, e, sua bela esposa Margaret, eram visitantes toleráveis de
tempos em tempos, para Leonor. Já que as idas do Jhon a mansão dos Grants eram
intercaladas, ano sim ano não. O que
deixava o velho bastante aborrecido. Como ele mesmo costumava dizer, nós éramos
(vovô e neta), uma dupla imbatível. Eu adorava as férias com ele. Ele era
incrível.
Com o tempo descobri, que a “Leoa” era
o tipo de mulher a qual se devia ter cautela em chatear, caso contrário, como minha
tutora, ela cortaria o pouco de regalias que eu ainda possuía aquela altura.
Ela tinha um filho, que não vejo desde o enterro do velho Grant, há dois anos e
meio. Não, ele não era filho do Bill Grant, mas sempre tinha tudo o que queria
com ele, o Bill simplesmente amava aquele garoto e a sua mãe, apesar de ter
casado com ela em regime de separação total de bens e com isso ter ganhado o
apelido de “velha raposa”. Era assim que ela o chamava. Então ele morre e nós
descobrimos que a “velha raposa”, também se esqueceu dela e do seu filho no
testamento. Um casamento de quinze anos é um bom tempo para se mudar de idéia
quanto a bens; ou não.
Pelas minhas contas acho que ela está
na faixa dos cinqüenta anos, mas nunca perguntei. Com certeza, teria sido um
crime interrogá-la sobre sua idade. Caso fizesse, certamente eu seria levada
para um reformatório e esquecida lá até apodrecer, sem direito a visitas.
Mulheres vaidosas ficam ofendidíssimas quando o assunto é idade, por isso quando
quero mantê-la ocupada, às vezes, com cautela, dou a entender que ela está com
uma aparência cansada e saiu de fininho para que ela possa se intumescer de
cremes anti-idade e aliviar sua rasa consciência me deixando em paz.
A senhora Grant tinha se tornado uma
mulher dura, mas apesar do jeito sisudo que ela adquiriu com a viuvez,
notava-se que ela ainda era bastante bonita. Certamente não parecia nada ter a
idade que eu desconfiava que ela tivesse. Ela simplesmente parecia ser pelo
menos dez anos mais nova do que qualquer idade que eu pudesse imaginar para
ela. Fisicamente tinha mais ou menos, um metro e oitenta de altura, cabelos
loiros dourados, corte Chanel, olhos escuros e questionadores, sorriso irônico
nos lábios, daqueles meio sorrisos frios que não pede muito esforço para ser
dado, era dona de um corpo esguio e bem cuidado, incrivelmente elegante.
Quando o Bill era vivo, ela parecia ser
bem mais agradável, mas depois tudo mudou.
-Ok, se você não abrir, eu vou chamar
um chaveiro e as coisas ficarão bastante difíceis pra você mocinha!
Palavras mágicas, chaveiro e difíceis.
Olha lá a Leonor que eu conheço isso
significa que eu não estava sonhando, e que também algo muito estranho estava
acontecendo.
-Ok, ok, Já estou indo...
Ao abrir a porta, quase imediatamente,
ela se aproximou do meu rosto e com aqueles olhos escuros, deu seu sorriso
pouco agradável e disse:
-Aí está você!
Aquele olhar de cima a baixo me fez
gelar, mas eu raramente perdia minha máscara de durona na frente daquela
mulher. Antes que ela continuasse, eu
disse:
-Posso ajudar em alguma coisa Leonor?
Posso saber por que queria derrubar a porta do meu quarto em pleno dia de
domingo e a essa hora da manhã?
-Meu bem!
Ela disse pausadamente em tom docemente
assustador.
-Você entendeu errado, eu apenas
gostaria que você se juntasse a nós, a mim e ao senhor Trevor, aqui, para uma
conversa em particular no escritório. Tudo bem para você querida? Vejo que sua
noite deve ter sido difícil. Não precisa se apressar, estaremos a sua espera o
tempo que for preciso.
Deve ter sido um grande esforço para
ela dizer aquilo tudo, suponho já que sua voz soava um tanto nervosa.
“Então era isso,
o advogado da família tinha algo a me dizer, com certeza deveria ser sobre a
herança que finalmente passaria para as minhas mãos daqui há seis meses, quando
eu faria dezoito anos e conquistaria minha maior idade, minha IN-DE-PEN-DÊN-CI-A. Sim, isso explica a
suavidade e nervosismo na voz da minha tutora.”
- Já vou descer, só preciso lavar o
rosto, desço num minuto.
Não perderia isso por nada... antes de
bater a porta deixei escapar as palavras mais alto do que gostaria:
- Não comecem sem mim!
E ouvi por trás da porta um sorriso
nervoso e palavras inseguras dizerem.
- Jamais começaríamos sem você.
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