Capítulo 5
O terrível pesadelo
- Vá chamá-la, e diga-lhe que não
aceitarei recusas para o jantar. Diga-lhe também que não se trata apenas de
jantar, mas de uma conversa que precisamos ter.
Leonor falou tão mecanicamente, como se
estivesse maquinando algo, e sem levantar a cabeça, dispensou a criada com uma
das mãos.
- Vá, vá, vá...
Quando Clarice bateu em minha porta novamente
o relógio marcava 08:00 PM, quis dar uma desculpa qualquer, ainda não queria
ver ninguém. Porém, ela foi tão insistente com o recado de sua senhora que eu
resolvi descer para o “jantar”.
Como previ, Leonor estava sentada na
cabeceira da mesa de jantar, não tocou em sua comida até que eu sentasse e me
servisse, no mais absoluto silêncio como sempre.
Foi então, que ela começou assim...
- Como está o jantar?
- ótimo!
Embora ela tenha percebido que eu
brincava com a comida distraidamente.
- Espero que esteja do seu agrado,
mandei fazer especialmente para você, imaginei que a falta de apetite lhe
sobreviesse depois da infortuna notícia.
“Por que ela estava tão preocupada comigo?”
- Você adivinhou.
Respondi secamente.
- Minha criança, você precisa se
alimentar. Afinal de contas você é nossa pequena guerreira.
“O quê? Que merda é essa que eu acabei de
ouvir?”
Meu apetite fugiu de vez ao som daquela
afirmação. Meu primeiro impulso era de sair dali para o mais longe possível
daquela mesa. Mas eu não fiz.
- O que quer dizer com isso Leonor?
- Vou direto ao assunto, pois acho que
conhecendo o Bill Grant como eu conhecia, tenho certeza que o que vou dizer faz
total e absoluto sentido.
E Continuou:
-Elizabeth, o seu avô se arrependeu do
primeiro testamento, nós nos desentendemos por um período, porém acho que ele
se arrependeu de ter sido tão duro e resolveu dar uma segunda chance criando
esse testamento definitivo.
- O que quer dizer?
Eu não estava conseguindo entender o
que ela dizia, eu achei que assim como eu, ela estaria desesperada, pois, caso
eu não me casasse o testamento era bem claro, todos estaríamos na sarjeta.
Então, me lembrei do seu olhar de triunfo e do seu meio sorriso na sala do
escritório pela manhã.
- É simples. Seu avô se aborreceu
comigo e quis se vingar de mim, mas conhecendo ele como eu conheço, deve ter se
arrependido de não ter nos incluído, em seu testamento, o Anthony e eu
obviamente , portanto, criou este testamento definitivo, para garantir que nós
tivéssemos uma segunda chance minha querida! Pense comigo, o seu avô jamais
admitiria ver o suor do seu trabalho, nas mãos do Estado, ou de um
desconhecido. E quem é o homem de confiança hoje a frente dos nossos negócios?
Por outro lado, ele saberia que eu jamais permitiria deixar você solta, sem
segurança se algo acontecesse com ele. Então, me conhecendo como ele conhecia
saberia que certamente eu assumiria a sua educação e a manteria como sempre
foi; sobre os nossos olhos. O que é um inconveniente, pois, não permitiria a
você conhecer outras pessoas. Levando-me a concluir que seis meses é muito
pouco tempo para se conhecer alguém e casar-se. Posso afirmar, com certeza, que
a intenção da minha raposa velha, era que tudo ficasse em família, dando a você
apenas uma opção: Anthony.
Isso tudo era tão absurdo que eu nem
consegui piscar.
“Casar com o
Anthony? Nãnãnão! Ele não faria isso comigo, não me armaria um golpe desses,
então além de casar, ele próprio se certificou de com quem seria? E logo o
Anthony?”
- Você está falando do velho Bill,
alguém que eu conheci alguém da minha inteira confiança, ele não tiraria minha
liberdade assim, ele não me deixaria sem alternativa.
-Não seja tola Elizabeth, o Anthony não
é um fardo para nenhuma mulher com um perfeito juízo em sua cabeça. Aliás, você
está sendo egoísta mocinha, pois, ele também não tem opção diante das
circunstâncias e talvez ele esteja perdendo bem mais com esse testamento do que
você.
Essa foi boa, Anthony, o sonho de toda
mulher com juízo perfeito. Eu estava cansada demais para pensar em mais alguma
coisa, apenas levantei e saí. Prometendo a mim mesma que por hoje, não pensaria
em mais nada que dissesse respeito a esse assunto, apenas recuar para lutar
amanhã, no momento era tudo o que eu podia fazer.
Entrei no quarto passavam das 09:00 PM,
precisava descansar, liguei a TV em frente a cama e deitei, meus olhos estavam
tão pesados que não consegui me conter diante da exaustão e me entreguei ao
sono.
A lua estava linda, cheia e clareava
parte de uma floresta. Eu sentia todas as sensações de voar. Frio, um pouco de
medo de altura, adrenalina, o cheiro da floresta. Podia ver tudo de cima,
percorrer distâncias imensas rapidamente. Adiante entre as árvores, vi uma
mulher deitada no chão, na terra, imóvel. Será que estava dormindo? Num impulso
cheguei mais perto e quando me aproximei, pude perceber que ela estava toda de
branco, não dava para ver direito, mas eu acho que...
“Ó meu Deus! Ó
meu...”
-Não quero ver isso.
Vi manchas vermelhas e minha visão
embaraçou, não podia acreditar no que via, mas acho que ela estava ferida,
estava m-o-r-t-a...?!
-Ó não, não...volte, preciso ajudá-la!
Eu não conseguia segurar o meu sonho,
ele estava me puxando para fora da visão.
“Não acorde, não
acorde, não acorde... NÃO ACORDEEEEEEEEEEEEE!!!”