Eória um mundo novo
O lugar me lembrava uma arena de
gladiadores só que menor, era uma sala redonda, com arquibancadas ao redor. Em
frente, um camarote com três tronos. O do meio se sobressaia sobre os outros
dois, estes estavam organizados um de cada lado do trono central. Também dois
lugares no centro do círculo. Que eu entendi ser ali que eu e Maviael
deveríamos sentar. Percebi também que a arquibancada estava completa e que
havia muito mais homens do que mulheres, e que todos os homens se vestiam
exatamente como Maviael, com exceção de suas camisas internas por serem da cor
preta.
O chão e as arquibancadas, eram de
mármore cinza, menos o púlpito e o trono que pareciam ser de ouro maciço, as
paredes eram da rocha do próprio lugar. Num ponto central bem no alto, percebi
uma espécie de marcador com o número 10.000 gravado nele. A arquibancada
parecia confortável, mas apesar disto eu não me sentia a vontade e enquanto
ainda estava distraída, um homem velho se levantou ao lado de destaque próximo
ao camarote e disse estar iniciada a sessão.
Me senti coagida como uma criminosa
prestes a ser julgada. Todos estavam de pé, inclusive nós. Um homem entrou no
camarote e todos o saudaram, acenando ele assentiu que todos sentassem.
Eu não conseguia vê-lo direito,
estávamos num local muito claro, onde o homem estava parecia ter uma sombra.
Todos sentamos em nossos lugares e eu percebi que os dois tronos ao seu lado
estavam vazios. O silêncio tomou conta do lugar. O mesmo homem acenou para que
prosseguissem com a reunião.
O homem velho que inicialmente havia
aberto a sessão, levantou-se por detrás do púlpito e sem demora tomou a
palavra:
-Quando o marcador indicou a chegada de
Ádria na terra a cerca de dezoito anos atrás, nós enviamos o nosso melhor
caçador de encarnados, o guerreiro imortal Maviael de Eória, para que a encontra-se
e a trouxesse para nós, porém...
Esse “porém” me fez gelar, o homem era
frio e inquisidor.
-Porém, Maviael sumiu e a menos que o
marcador retrocedesse em sua marca sabíamos que ele não havia sido morto pelos
malditos lobos, sua falta de comunicação conosco, feriu a lealdade e o
juramento dos caçadores e demonstrou seu imenso desrespeito ao seus superiores,
a esse conselho e ao seu rei.
-Que prova nos dá Maviael de que está é
a Ádria?
Maviael levantou-se e olhando para o
rei o saudou.
O rei assentiu com a cabeça e ele
pôs-se a falar:
-Por lealdade ao meu rei e honra ao meu
juramento de caçador, eu Maviael de Eória, afirmo diante deste conselho que a
jovem que trago comigo é o último espírito perdido dos nossos guerreiros.
Maviael se fez pronunciar de maneira
honrada e segura.
-Palavra? É só isso que nos traz? Ela
tem a marca?
O ancião retrucou venenoso.
-Sim. Assim que nasceu no condado eu a
identifiquei. Estive muito perto da jovem todos esses anos. Por muitas vezes
tive oportunidade de trazê-la, mas por uma série de desencontros não pude, o
humano que a criava a levava para longe muitas vezes, e quando reaparecia
estava sempre cercada de humanos. Além disso, eu não estava sozinho. O Bautox
estava lá.
Nesse momento a assembléia se inquietou
e todos falavam ao mesmo tempo, até que o rei com um gesto fez todos se
calarem.
-Você se certificou de não deixar
vestígios Maviael?
O ancião o sondou.
-Sim senhor.
O ancião olhou em direção ao rei, fez
sinal e se voltando para frente pronunciou o fim da sessão.
O rei levantou-se e saiu pelo mesmo
lugar que entrou. De relance vi que se vestia como os outros, porém a cor de
suas roupas eram brancas. Após sua saída, a assembléia começou a esvaziar.
Me voltando para Maviael que continuava
de pé, olhando para frente com os punhos cerrados, eu indaguei:
-Agora posso perguntar?
Ele relaxou, se virou em minha direção
e disse:
-Sim,
você pode.
-Será que você pode me contar o que é
tudo isso? Eu não estou entendendo nada.
Desabafei desanimada e mais assustada
do que o normal.
-Tudo bem, mas antes vou levá-la até
sua dependência.
-Hum?
-É
possível que o rei a chame ainda hoje. Venha e não faça essa cara eu vou responder
todas as suas perguntas... se eu conseguir...
E eu vi um sorriso em seu rosto. Não
sei por que, mas eu confiava nele como se o conhecesse a vida inteira.
Saímos
por onde entramos e chegamos novamente em frente ao elevador, dessa vez uma
linda mulher negra e alta vestida como uma versão feminina dos trajes
masculinos nos cumprimentou. Seus olhos eram cor de amêndoas e seu rosto era
tão cordial, que eu a cumprimentei de volta com um sorriso, Maviael apenas
acenou com a cabeça olhando-a firmemente nos olhos. Cada um apertou um símbolo
diferente no elevador e calados subimos alguns andares.
A porta do elevador se abriu e nós
saímos deixando a bela mulher para trás.
Desta vez não havia corredor e sim um
vasto andar aberto, muito parecido com um shopping. Jardins de inverno
decoravam o lugar, bancos como se fosse uma praça e uma estátua de um guerreiro
de punhos cerrados na altura da cintura em reverência, assim como vi Maviael
fazer mais cedo, ela era imensa no centro do andar. Passamos pela estátua e
seguimos em frente, então comecei a perceber que ao redor daquele lugar, aos
invés de galerias, haviam portas, cada uma de uma cor, algumas com jardins em
frente e outras sem nada, e enquanto me perguntava o que era tudo aquilo?
Paramos e Maviael se virou mais uma vez, passou por trás de mim e me empurrou
para frente, pensei que ia bater com o rosto na porta, fechei os olhos e ela se
abriu.
Ele sorriu e me explicou:
-Normalmente precisamos de um pouco de
sangue para nos registrar como proprietários, mas achei que você já tinha
sangue o suficiente para isso.
-Hummm?.
Ele sorriu e ao entrarmos vi o vestido
pendurando por um cabide numa sala, que parecia ser um pequeno apartamento.
Foi quando me dei conta, que ao
entramos na caverna eu dei minha mochila a ele e não o vi mais com ela, eu
estava tão distraída que nem percebi que não carregava nada nas costas.
-Uau! Isso é lindo! É uma graça esse
lugar! Me sinto em casa.
Não a casa em que eu vivi nos últimos
treze anos. Mas meu espaço, como eu sempre sonhei ter. O visual da sala era
clean, arejado e moderno, com ventilação artificial e inteiramente equipada com
eletrônicos de última geração. Não parecia que estávamos debaixo de toda aquela
terra e rocha. Havia televisão e home theater. As paredes eram brancas, os
moveis de metal, menos o sofá vermelho bastante confortável na sala. Tela de
Salvador Dali na parede (A menina na janela), e...
-Eu sei. Essa será mesmo a sua casa de
hoje em diante. Pelo menos até...Você deseja alguma coisa em
particular...Adri...Liz?
-Roupas, eu acho...ainda não sei se
tenho tudo aqui. Não consigo acreditar que é meu tudo isso.
-Tem roupas pra você no closet. Eu
estou perguntando se você precisa de algo em especial, particular. Vai ser
difícil, mas acho que posso trazer para você.
-Você diz...ir até a mansão e pegar
meus pertences?
-Sim. Se for importante pra você.
Ele disse isso olhando nos meus olhos
de uma forma que eu tive que desviar o olhar.
-Não, não precisa. Não quero me lembrar
de nada da minha velha vida. Só preciso que você me explique o que está
acontecendo?
-Antes,
você não deseja se alimentar, tomar banho, ficar a vontade?
-Sim. Mas se eu deixar você sair alguma
coisa me diz que não vou ter essa oportunidade novamente.
Ele riu e piscou pra mim. E levantando
as mãos para o alto, disse:
-Agora
você me pegou, era isso mesmo que eu iria fazer. Sair de fininho!
Gargalhamos juntos e ele continuou:
-Relaxe, eu espero por você. Prometo
que não sairei daqui até que você tenha todas as suas perguntas respondidas.
Ok?
-Ok!